RIMANCETE

RIMANCETE

À dona de seu encanto,
à bem-amada pudica,
Por quem se desvela tanto,
Por quem tanto se dedica,
Olhos lavados em pranto,
O seu amante suplica:

-O que me darás, donzela,
Por preço do meu amor?
Dou-te os meus olhos (disse ela),
Os meus olhos sem senhor…
– Ai não me fales assim!
Que uma esperança tão bela
Nunca será para mim!
O que me darás, donzela,
Por preço do meu amor?
Dou-te meus lábios (disse ela),
Os meus lábios sem senhor…
– Ai não me enganes assim,
Sonho meu! Coisa tão bela
Nunca será para mim!
O que me darás, donzela,
Por preço de meu amor?
-__ Dou te as minhas mãos (disse ela),
As minhas mãos sem senhor
– Não me escarneças assim!
Bem sei que prenda tão bela
Nunca será para mim!
O que me darás, donzela,
Por preço de meu amor?
Dou-te os meus peitos (disse ela),
Os meus peitos sem senhor…
– Não me tortures assim!
Mentes! Dádiva tão bela
Nunca será para mim!
O que me darás, donzela,
Por preço de meu amor?
Minha rosa e minha vida…
Que por perdê-la perdida,
Me desfaleço de dor…
– Não me enlouqueças assim,
Vida minha! Flor tão bela
Nunca será para mim!
O que me darás, donzela?…
Deixas-me triste e sombria,
Cismo… Não atino o quê…
Dava-te quando podia…
Que queres mais que te dê?

Responde o moço destarte:
– Teu pensamento quero eu!
Isso não… não posso dar-te…
Que há muito tempo ele é teu…

MANUEL BANDEIRA. Ritmo Dissoluto.In: BANDEIRA. Manuel Carneiro de Souza BANDEIRA Filho) *Estrela da Vida Inteira *; poesias reunidas e poemas traduzidos). Introdução de Gilda e Antônio Cândido. Estudos de Otto Maria Carpeaux. Edição Comemorativa do Centenário de Nascimento do Bardo (1886-1986). Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1986 .

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