LOUISE LABÉ, “mulher de verdade” ou “criatura de papel”? – mistérios da escrita.

LOUISE LABÉ (1524-1566)

SONNET XVIII

SONETO  XVIII

  Louise Labé nasceu e viveu toda a sua vida em Lyon. Diz-se que era mulher de muita beleza, casada com um comerciante de cordas, e que promovia grandes saraus literários.
Sua poesia é inferior à sua obra em prosa “Débat entre la Folie et Amour” que retoma o “motif” em que Loucura é a responsável pela cegueira de Amor.
E seus sonetos ainda que cheios de fragilidades formais são mais conhecidos do que a obra em prosa. E deles, o mais célebre é este Soneto 18 que, como se pode ver desde quando foi publicado no ano de 1555, é praticamente licencioso e revela uma rebeldia pouco aceitável e praticamente inaudita não só para a época, como também para o meio provinciano em que ela nasceu e viveu.

Queria que vissem que se há lirismo em Louise, a ele sobrepõe-se a paixão, os sentidos e  a incitação.

         Curiosamente, os sonetos, em número de 24 – o primeiro deles foi escrito em italiano, o que seria uma marca da influência do Renascimento peninsular em sua obra – têm como tema, aspirações, desejos, arrependimentos, desilusões e -quem sabe?- realizações de aventuras amorosas que lhe eram atribuídas e eles lhe renderam um processo judicial pelos calvinistas que então governavam Lyon.
De toda forma, a despeito dos deslizes formais, até hoje, passados mais de 4 séculos, Louise continua a ser estudada e admirada, como uma criadora de histórias de Amor, que não importa sejam ou não reais, ideais ou idealizadas. São uma intenção de vivência. Penso eu.

Obra:  Labé, Louise. Oeuvres. Lyon, 1555.
Tradução de Sergio Duarte.

        Neste “*enlace*” (link), que eu achei very hot & cool ;-), pode-se ver o poeta Louis Aragon confessar sua admiração modelar (?) por Labé e que ela foi inspiração de poemas feitos por ele. Pode também ser constatada  a ambiência bastante singular,  prosaica, da cena em que Louise vivia.

E esse mote de L. L. é verdadeiramente frappant:

“ Je vis, je meurs ; je me brûle et me noie“

Pessoas, a moça viveu no seculo XVI, qual é?;-)

O que eu não faço por vocês;-)))

Ora, muito bem, este post com algumas modificações – era maior – foi publicado originalmente em 27.07.2004. Fez sucesso. (moderado, talvez:-:). O que sei é que foi largamente copiado por outros blogs. Logo…;-)

E eis que 4 anos depois, no mês passado,  recebi do eminente  Felipe Fortuna – não por acaso, tradutor das Obras,  1555 de Labé – o seu artigo  no JORNAL DO BRASIL, em que apresenta e analisa a tese  de uma professora , universitária de renome,  Mireille Huchon –   que sustenta  que  Louise Labé -elle-même –  nunca existiu. Foi uma criação de vários homens  de letras, cerca de 24 criaturos…

Leia aqui e tire as suas conclusões.

Eu tenho lido, tenho pensado  e repensado e fico com Felipe Fortuna.  Mas o que importa é você, o que acha?

Bookmark Felipe Fortuna – escritor, ensaísta, tradutor e poeta. 
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Este post é dedicado  a três amigos de que muito gosto e dão alento e cor e som à minha vida. Pela ordem cronológica de ‘conhecimento’ :  Nelson,  Ricardo e Paulo.

O artigo de Felipe Fortuna  (essencial para a compreensão do post) pode ser lido aqui:

ou  no Jornal do Brasil 

ou  aqui nos Textos Especiais.

Vale a  pena: DESFAZENDO OS MITOS DO AMOR

Sobre sub rosa
The most of all things and persons in the entire world drives me *flabbergasted". That includes me.

13 Responses to LOUISE LABÉ, “mulher de verdade” ou “criatura de papel”? – mistérios da escrita.

  1. Celia Trakl says:

    Sinceramente?
    Eu também fico com você, Meguinha. Afinal, muitos dizem que Homero não existiu, que Shakespeare não existiu etc e pelo andar da carruagem, qualquer pessoa que não foi conhecida de um conhecido nosso jamais existiu.
    Também não gosto de “teorias conspiratórias”, mas acho que os professores, os acadêmcios loucos por “papers” não tem limites em suas teses.
    Será que tantos escritores e poetas que vieram depois dela se deixaram enganar assim?

    Essa não.
    Muito bacana e safadinha essa Louise Labé e a tal Michelle , Mireille deve ser freira.

    Ah eu me lembro da primeira vez que você publicou a Louise que era fogo e fez muito bem.
    Ela é das minhas. Pronto.
    Kusse.

  2. É, Megleen, entro por aqui para me emocionar. E adoro isso, viu? Que lindo post. Que linda poesia. Beijos e mais beijos da ainda louraça belzebu, gostosona e provocante…hahahahahaha.

  3. O Réprobo says:

    Oh Queridíssima Meg e Meguíssima Querida!
    Muito e muito obrigado pela parte que me coube da dedicatória, ainda por cima em excelente companhia!
    Estou Consigo e com (a) Fortuna: é evidente que na altura em que ainda eram relativamente escassas as obras impressas, só os panfletos religiosos e os Autores consagrados poderiam estar seguros de prioridade.
    O carácter licencioso não espanta: no período medieval, quer nas desgarradas das camponesas, quer nas poesias eruditas das grandes damas, o erotismo estava de pedra e cal. A Reforma Protestante tentou, justamente, impor algum puritanismo ao mundo dos “Tribunais de Amor”, lembra?
    E, como a Celia recordou, essa de atribuir a um grupo de sumidades obras literárias de mérito é velhíssima. A louca que foi Delia Bacon meteu na cabeça que Shakespeare não podia ter escrito aquelas maravilhas. E vai daí, toca a inventar que tinha sido o corpus shakespeareano obra de um cenáculo onde entravam Bacon, Raleigh, Sidney e mais uns tantos (alguns nem se falavam, mas que importava?). Base para apoiar-se? O ar. Mas insistia em chamar ao Autor creditado ” aquele impostor do Will”. Quando foi pedir ajuda a Hawthorne – que era diplomata e muito bem educadinho – este suou as estopinhas para não ceder aos pedidos dela. Será que a investigadora que apresentou a tese sobre a Louise é uma reencarnação da americana?

    E os versos, mesmo metricamente, não me parecem assim tão defeituosos. Mas é língua alheia, convém não me meter por esse caminho.
    Querida Anfitriã, mais uma vez muito obrigado por Se ter lembrado deste maldito que é muito Seu amigo.
    Beijinhos e abraços aos demais Amigos do «Sub Rosa»

  4. Nelsinho says:

    Ah!…Meu dia foi mesmo de amargar! (pra não variar…)

    O Padre “Pipas” era figura folclórica, de barriga enorme, que comprimia ainda mais sua baixa estatura! As más línguas diziam que ele usava um peniscópio para poder enxergar sua genitália:)!

    Mas Padre “Pipas” era um grande professor de francês, num tempo em que francês era disciplina levada a sério. Seu lecionar era divertido e gostoso, pejado de curiosidades literárias, poéticas e, não raramente, Très érotiques, ma chérie!!!

    Recitou, como se estivesse em cena, “Sonnet de la belle cordière” e citou Louise Labé como Crème de la crème da poesia amorosa e “cantigas de amigo” dos tempos em que tal coisa poderia acabar mal…

    *******
    Confesso ficar em dúvida se realmente mereço tal destaque mas…Quanta honra, Meguinha! Para mais, em que companhia!!!

    Beijos


  5. Ai, Nelsinho, que delícia essas lembranças…hahahaha *pe/r/niscópio*;-)))
    U-ma coi-sa…
    Queridos, como sabem esta conversa aqui é o meu salário virtual e moral de fazer o blog – e aqui pra nós quem pode pedir mais?
    Por isso, querido Réprobo, queridas Celia, Marie desculpem, esta chata e recorrente febre e a respiração difícil me impedem de vir agora responder. Embora já o tenham feito lindamente.
    Mas aviso que me deleito, morro de rir sozinha frente ao computador.
    Daqui a pouco vão me internar;-)))

    Juro que volto para responder a vocês.
    Vocês são mesmo um anjos.

    Um beijo da Meg e seu chiado.

    P.S. Como diria Marie Tourrvel, essa Louise era mesmo do balacobaco.
    E outra coisa, sim, este post(al) é e não é repetido ou repetitivo.
    Já foi publicado… mas quando o foi a Louise reinava soberana. Ela era!
    Agora, já pairam dúvidas sobre a existência dela. Ainda bem que não perdi tempo. Valeu ler primeiro aqui (pisc*)
    Só digo uma coisa, quem disse que a vida dos críticos e do pessoal da Teoria Literária não é movimentada?
    Afinal, se se sentir tédio basta dizer que Camões não era Camões ora, ora… pois!

    Eu volto (isso é uma ameaça!)
    M.
    Smooches.

  6. Angélica says:

    Parabéns pelo blog que é excelente. Passo por aqui sem comentar e agora fiquei com remorso de passar muda e sair calada.
    Então lendo o comentario de Nelsinho fiquei confusa: não dizem que as ” cantigas de amigo” eram mesmo escritas por homens passando-se por mulheres?
    deixo votos de boa saúde e se alguém quiser responder , na sua ausência, eu gostaria. Por favor não se canse nem se apresse.
    Excelente post e excelente comentaristas (afora eu, bem entendido) Também gostei muito do post sobre Pe. Antonivo Vieira.
    Continuamos a conversa para aumentar seu salário lol

  7. O poema é lindo.
    E eu trago o meu beijo, com carinho e na esperança que esteja melhorando sua saúde.
    Cuide-se menina, e bem.
    Um beijo.

  8. Nelsinho says:

    Não fique confusa, Angélica, porque eram mesmo!

  9. Angélica says:

    Obrigada, Nelsinho

  10. rose marinho prado says:

    Meg

    Aonde quer que vá, mantenha o computador ao pé de si. Obrigue as pessoas e entenderem a urgência de você usar a tecnologia. E a urgência somos nós…seus leitores.

  11. Gente, obrigada!
    Angélica, sua pergunta faz todo o sentido, mas como disse o Nelsinho, nãp´fique confusa, eram mesmo os mancebos que as faziam.
    Tenho cá minhas teorias hohojo.
    brincadeirinha: o fato é que isso de cantigas de amigo (amor cortês) cantigas d’escárnio e cantigas de maldizer – cantigas- canço, cancioneiro, canção – são um elemento fortíssimo e representativo na poesia medieval. Quando o “Ocidente” se fundamenta
    Louise Labé já é bem renascentista.

    Mas escrevo para seu email, OK?
    Um grande beijo e como você vê, passar e comentar, não só, aumenta meu salário: fortalece a interação e distribui a alegria.
    Afinal, isto é um blog e enquanto deixarem, servirá para fazermos belas trocas e nos divertimos sadiamente, isto é sem fazer mal a ninguém.
    Não mais que isso, mas que não é coisa de pouca monta, isso não é. É?
    beijos e seja bem-vinda e volte sempre.
    Meg

  12. Ernani says:

    Duas referências sobre Louise Labé, felizmente “descoberta” agora. Antes tarde do que nunca…
    1) O “Débat de folie et d’ amour”, é citado em uma passagem importante da “História da Loucura”, de Michel Foucault. Na edição brasileira (de 1978!) da Perspectiva, p.15. Referência rápida e pequena, mas significativa no contexto da “experiência trágica” da loucura. Como esse blog é muito “erudito”, cito em francês:
    “Dans la littérature savante également, la Folie est au travail au couer même de la raison et de la verité. C’est elle (…) qui est en contestation avec lui [l’amour] pour savoir lequel des deux est premier, lequel des deux rend l’autre possible, et le conduit à sa guise, comme dans le dialogue de Louise Labé, Débat de folie et d’amour” (Histoire de la Folie. Paris: Gallimard, 1972, p. 25).
    2)Kangussu, Imaculada. “Amor e loucura segundo Louise Labé”. In: Sobre Eros. Belo Horizonte: Scriptum, 2007.

  13. M’sieu le Professeur! Quelle (bonne) surprise!
    Soyez bienvenu!
    Voilà , c’est la nôtre chère “Gourgandine! ”
    Merci e m’excusez du peu!
    :-)

    Maria Elisa.