Duas mulheres, duas expressões poéticas do barroco

Será brando o rigor, firme a mudança,
Humilde a presunção, vária a firmeza,
Fraco o valor, cobarde a fortaleza,
Triste o prazer, discreta a confiança;
.
Terá a ingratidão firme lembrança,
Será rude o saber, sábia a rudeza,
Lhana a ficção, sofística a lhaneza,
Áspero o amor, benigna a esquivança;
.
Será merecimento a indignidade,
Defeito a perfeição, culpa a defensa,
Intrépito o temor, dura a piedade,
.
Delito a obrigação, favor a ofensa,
Verdadeira a traição, falsa a verdade,
Antes que vosso amor meu peito vença.

Soror Violante do Céu (1602-1693)

◊◊◊

Amor empieza por desasosiego,
solicitud, ardores y desvelos;
crece con riesgos, lances y recelos;
susténtase de llantos y de ruego.
.
Doctrínanle tibiezas y despego,
conserva el ser entre engañosos velos,
hasta que con agravios o con celos
apaga con sus lágrimas su fuego.
.
Su principio, su medio y fin es éste:
¿pues por qué, Alcino, sientes el desvío
de Celia, que otro tiempo bien te quiso?
.
¿Qué razón hay de que dolor te cueste?
Pues no te engañó amor, Alcino mío,
sino que llegó el término preciso.

.

E Mozart que barroco, barroco não é, mas casa divinamente, no caso.

Sobre sub rosa
The most of all things and persons in the entire world drives me *flabbergasted". That includes me.

14 Responses to Duas mulheres, duas expressões poéticas do barroco

  1. Tereza says:

    A “jouissance” feminina, “um arremesso para o infinito e, ao mesmo tempo, um arremesso interminável”.
    Bernini e Lacan sabiam das coisas…
    Lindo o seu post!
    Beijos.
    Tereza

  2. Tereza,
    Em primeiro lugar, seja muito bem-vinda!
    Dito isso, você e todos hão de me permitir receber imodestamente e com alegria toda a essência do seu comentário.
    Sim, sim, você tem razão, a beleza e a riqueza da palavra sem fala, o incêndio, os fragmentos dos gritos do incomunicável. Enlace s e(m) desenlace.
    É bem o que o Barthes dizia a propósito do ‘prazer do texto’: Há que investir.
    Um beijo e volte sempre.Obrigada.
    Meg

  3. Vivina de Assis Viana says:

    “Amor empieza por desasosiego”, meu Deus, Meg, que sensação maluca tive ao ler esse post!
    Te explico: na faculdade, curso de Letras Neolatinas, a professora de Literatura Hispano-Americana, Maria José Queiroz, era alucinada com Sor Juana Inés de la Cruz. Tanto, que lia e relia – obsessivamente – seus poemas em classe, para que os sentíssemos como uma segunda pele.
    Hoje, sei que – pelo menos comigo – funcionou.
    Ao ler o primeiro verso de seu post, “amor empieza por desasosiego”, tive de volta, mais de quarenta anos passados, a sala de três janelas, os dez colegas de turma, a voz da professora, teatral, dando força a cada fonema, o casarão onde funcionava a faculdade, ao lado do Palácio da Liberdade, morada de qual governador? Isso, não sei mais.
    Obrigada, Meg. E me desculpe pelo transbordamento. É que palavra escrita é palavra escrita. Sagrada, eterna.

    Beijo emocionado

    Vivina.

  4. Minha querida, e (sabe que é superlativamente querida) Vivina!!!!
    Você sabe, minha linda como me faz feliz quando vem aqui!
    Que história bela, que sensação profunda!
    Oh, minha querida, já nem sei o que diga (de fato a alegria, o sentimento quase sempre é discurso sem palavras.

    E sua descrição quase me faz ver a professora a quem hoje, se me permite homenagearemos.
    VIVINAAAAAA! EU AMO VOCÊ!!!!!!!!!

    Milhões de beijos. Milhões de alegrias
    Sua (admiradora, fã, amiga, tiete e *idolatradora* -se essa palavra não existe, acaba de ser inventada) Meg.

  5. Mozart cabe em tudo, né não? Lindo, viu, Meg? Lindo. Adorei. Beijocas

    =-=-=

    Ah! Marie querida
    Eu tentei. Tentei acompanhar a *ambiance* do post, o que a Tereza tão bem ressaltou.
    É o Concerto 21, mas no andamento vivace assai;-)
    Você achou?
    Um beijo, Marie.
    Meglyn

  6. Meg, queridíssima,
    Foi chegar e ir me emocionando. As lembranças da Vivina, a emoção perante o texto e as viagens provocadas pelas palavras, sempre me colocam água nos olhos. E no poema anterior, no da Soror, encontrei logo duas alegrias: lhana e lhaneza. Lindas palavras. Deveriam existir mais mulheres chamadas Lhanas. O significado combina com a feminilidade. Todos os verbetes perfeitamente adeqüados às mulheres.
    Beijo enorme

    =-=-=-=
    Lhaneza, lhana também são palavras que pertencem, querido milord ao País do Tempo da Delicadeza.
    Não podemos deixar que se extingam… que se acabem. Qu sejam esquecidas.
    Lembrei-me muito de você, muito mesmo pois tenho já pronto, o segundo texto sobre palavras para postar em sua homenagem.
    Lembra o primeiro?

    Pois é estou programando, à medida que a respiração vai ficando mais leve e mais fácil.

    Um carinho imenso, querido Lord, sua Amizade foi dos melhores presentes que a Blogosfera me deu.

    Muitos beijos Guarde alguns para você e os demais dê-os todos em Lady Cordélia.
    Megleen

    P.S. Vivaaa! Como estou feliz (straightforward: I need a lot of four-leafs clovers, hohoho Saint Patrick helps me)

  7. Eduardo says:

    Meg

    obrigado pelo lindo, longo, e sempre inteligente comentário no Varal.
    O link da sua postagem de 85, que o Claudio nos enviou , é maravilhosa! Parabéns!
    Espero suas melhoras e continuo seu fã número 1.

    Bjs


  8. Querido amigo Eduardo: O principal de tudo é que ele é verdadeiro!

    Você lembra o que vinha dizendo há quase um ano?
    E que dizia que devia aceitar com naturalidade, sem negar o que era merecido?

    Pois bem, fico felicíssima de ver essa verdadeira revolução, esse movimento forte e reconhecido por todos, avalizado por tantos e muitos, que o Varal de Idéias promove e você capitaneia. Só faz quem pode, Eduardo!
    Eu testemunhei desde o nascimento. Você sabe.

    E sabe, Eduardo, vou fazer um desabafo com você, meu grande Amigo: uma das maiores ofensas que me podem fazer é quando analiso, reflito e digo algo a respeito de um trabalho , de idéias etc e as pessoas, os autores dizem que é *exagero*.

    Entendo que diante de uma avaliação favorável, classificá-la como exagero é o sinônimo perfeito para *b-a-d-u-l-a-ç-ã-o*.
    E eu que já estudei e vivi o suficiente para me governar, vou lá ficar bajulando alguém? E eu lá preciso disso? Adquiri certos direitos, inclusive o de ignorar e silenciar sobre o que *NÃO* gosto.
    É uma ofensa dupla. E que inibe para sempre o que tenho a dizer. Entendo que toda crítica desde que justificada, fundamentada, é fruto de um esforço, de um trabalho de quem a profere.

    Felizmente, o tempo deu-me razão. E mais felizmente ainda, você sempre me respeitou. E sem invocar o “equivoco” conceito de modéstia. “Modéstia” é outro departamento.É outro guichet, dobrando à direita, no fundo do corredor;-) Hohoho
    Costumo dizer que se um médico fala : Sua pressão está maravilhosa, seu coração está muito bom! ninguém diz: Ah Doutor, exagero seu, bondade sua!
    Não é?
    Não tenho como ser mais grata a você , querido Amigo.

    Beijos e obrigada.
    E repito se eu não aparecer como antes, torça por mim, logo estarei in fine fettle.

    E tenho dito! ;-)
    beijos à bela Paulinha.

    P.S:
    Este post me deu sorte, os meus mais queridos amigos vieram e me deram *tantas emoções”, não é Ery Roberto?

    Descanso, agora. :o(((

  9. “Será brando o rigor, firme a mudança.”
    Olha que lindo isso. O que o amor faz, vence o forte.
    E é assim que gosto de tí, forte, porque tens amor.
    Beijos prá você.

  10. Ery Roberto says:

    Meg, já que cheguei logo depois da Aninha, vou pegar uma deliciosa carona com essa criatura admirável. Ela “puxou” aí de cima um verso encantador. Bem que ele cabia no soneto como um fecho esplêndido, mas Soror Violante do Céu usou-o como um verdadeiro “portal” para que todos os sentidos o acompanhassem na solenidade de uma mensagem primorosa. Algo como “o que começa bem só pode acabar maravilhosamente bem.” // Vivina sempre dá show, você não acha? conserva el ser entre mi infinita admiración y el amor fraternal. /// Querida, eu notei, sim, sua “mexidinha” na minha frase, no post do Paulo Mendes Campos. Foi, com certeza, o “LULULALÁ” e o “Ery Roberto e Erasmo”. Ficou genial, embora eu não seja nenhum Rei – sou virtual (rsrsrsrs). Nada de nerd, porém! //// Adorei tudo, viu?! Aliás, isto não é novidade em se tratando de ler, comentar e participar dos seus belíssimos posts. Diria, minha amada professora: Hi, that is great job, I just wanted to congratulate you about it. Forever! Beijos com o sabor doce daquela Ilha Encantada.


  11. Aninha querida, muito, muito querida:

    Hoje estou um pouco fraca, fisicamente, mas você sabe, (todos sabem) que quem me dá muita força, muita mesmo, é você. Obrigada, querida

    E a minha sorte é imensa, pois eu amo você e vejo que quem me dá força é também uma das pessoas mais respeitadas, mais queridas e generosas dessa blogosfera tão cheia de surpresas , tão cheia de emoções.
    Uma verdadeira vida real!!!!

    Te amo, Aninha, e me sinto mais segura com seu carinho.
    Beijos pro Valter e pro Erickinho.
    Não esqueça de falar sempre com o Cara lá de cima, OK?;-)

    Meguita

  12. Como pôde a Violante?

    Ser, na Terra, a planta.

    Mas, se, do céu, confiante?

    E, no brando rigor, mudar?

    E, no triste prazer, confiar?

    Ser pedra e ser planta.

    Indigno merecimento.

    Da pedra imperfeita.

    No lusco-fusco.

    Peca, peca, confiante.

  13. O Réprobo says:

    Querida Meg,
    quem também publicou um poema de Soror Violante, com aparato laudatório, foi o blogue «Impensável».
    Se quiser fazerr-lhe uma visitinha…
    Beijinho

  14. Jéssica says:

    [i]
    issu e um maximo uma poetica eu amei a poesia
    issu vaii pegar bem pra minha redação da escola
    eu amei eu tenho 13 anos meu nome e Jéessica eu naum sou shegada a ver muitas poesias pela internet
    eu gosto mesmo de ler livros mais eu amei muito